terça-feira, 29 de junho de 2010

Esconderijo da vergonha

Esconderijo da vergonha

É divertido ver como a maioria das pessoas fica encabulada ao conversar com outra no primeiro encontro. A falta de assuntos é corriqueira, e a falta de criatividade para inventa-los naquele momento preciso é fato comum.
No entanto quando vejo esses "chats online" fico surpresa ao ver como a conversa parece fluir naturalmente. Pessoas que não se conhecem, nunca se viram na vida, e parecem ser amigas de anos!
A internet é um bem precioso quando o que se quer é iniciar uma conversa com uma pessoa desconhecida. Acho que por não existir o contato físico e/ou visual nesse meio de comunicação, ficamos mais a vontade para falar sobre tudo.
O que se conclui é que o ser humano de fato tem receio da reação do outro, principalmente se desconhecido. Dessa forma, falando sem contato, parece ficar mais fácil consertar algo dito anteriormente e que o outro não gostou ou não engoliu muito bem, porque ficamos menos nervosos, ou simplesmente podemos esconder isso por de trás da telinha do computador.

Raissa Guida

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O espetáculo da vida

O espetáculo da vida

Há quem acredite que nasçamos pré destinados, que tenhamos um livro já escrito antes de nosso primeiro contato com o mundo e que não o possamos ler devido ao fato de que iríamos querer mudar o que ali diz. É como uma biblioteca enorme, com romances, tragédias, comédias, na qual apenas o escritor tem acesso as publicações nela contidas. E se não podemos ler o livro que nos diz respeito, jamais saberemos o que acontecerá no segundo seguinte a tantos planos que costumamos fazer. Combinamos de ir à praia, e chove, de ir ao cinema, e acabam os ingressos da sessão. Sonhamos, muito, com o nosso salário mais alto, com a promoção no emprego, com príncipes e princesas encantados que parecem nunca vir. A cada dia que passa, conhecemos mais e mais pessoas, e jamais imaginamos que o nosso amigo de bar pode ser o nosso próximo chefe e o colega de classe, nosso futuro marido. Vivemos e convivemos com as pessoas sem ao menos poder ler a introdução ou o índice de seus livros. Conhecemo-nas no convívio diário, entre a primeira palavra e o convite de casamento parece que foram apenas alguns beijos. Rimos, choramos, brincamos, caímos, erguemos e assim vivemos. O amanhã é sigiloso e só se desvenda no momento em que acontece. Podemos planejar, como muitas vezes o fazemos, mas se não estiver escrito em nosso livro que aquilo é o certo, de fato não acontecerá. Não adianta querermos, "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios", e de fato no momento o improviso é sempre a solução. Somos todos protagonistas deste brilhante espetáculo que é a vida, e devemos fazer dele o melhor possível. Mesmo que não possamos saber se conseguiremos de fato um salário mais alto, devemos lutar a favor dele, devemos amar, devemos nos jogar de braços abertos no mundo, pular do penhasco sem medo. E no fim, quando as cortinas se fecharem, aqueles que conosco conviveram, aplaudirão de pé o livro de nossas vidas.

Raissa Guida

O momento de agora

Baseado em "Hoje não escrevo" de Carlos Drummond de Andrade e "Sobre a Escrita..." de Clarice Lispector.

O momento de agora

Abro o dicionário na primeira página da letra A, por ali meus olhos correm na intenção de achar uma palavra que me inspire a escrever uma primeira linha de meu novo texto.
Viro a folha e decorro todo o pequeno livro que por vezes me ensinou palavras que jamais ouvira falar. E por um instante me vem a cabeça que escrever não é apenas juntar letras e formar frases que para você ou para mim façam sentido. É muito mais que isso.
A escrita precisa de emoção, para escrever necessitamos de uma trilha sonora que não pode ser ouvida pelo leitor, pelo menos não da forma especialmente como o autor ouve. Cada um que ler o texto interpretará de uma forma, escutará uma música. Precisamos também detalhar o cenário, os personagens e suas roupas, e por mais detalhada que seja a descrição, sempre haverá alguém para ver (ou ler) de forma diferenciada a sua.
Penso por isso que escrever seja uma das tarefas mais complicadas ao homem, pois por mais que se coloquem palavras no papel, sempre parece que está faltando algo (ou simplesmente que poderíamos usar outras palavras). Darei como exemplo de tarefas "facilitadas" o teatro, ou o cinema que tem a imagem, que tem trilha sonora, e pode utilizar de vários outros recursos para que seu espectador o entenda, além de simplas palavras.
A minha ideia de hoje é esta, provavelmente incompreensível ao leitor que não conhece o meu tipo de escrita, mas perfeitamente descritível ao meu momento de agora.

Raissa Guida